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Namoro de corte: faz mesmo sentido?

Extremos são sempre perigosos. Sempre. Estou seguro de que era exatamente isso que Salomão disse ao escrever: "não sejas demasiado justo, nem demasiadamente sábio, por que destruirias a ti mesmo?" (Eclesiastes 7.6). E por que ele disse isso? Ora, toda vez que tendemos a um extremo passamos a ignorar todas as demais opiniões e nos colocamos num pedestal soberbo de "detentores da verdade". O caminho mais prudente em grande maioria de nossos posicionamentos é o equilíbrio. 
O dito "namoro de corte" foi ressuscitado num momento em que as lideranças evangélicas passaram a enxergar o "namoro convencional" como ameaçador para os futuros casamentos de suas ovelhas. Explico.
O namoro de corte é um relacionamento onde o casal se priva de contato físico e de declarações de amor. Nada de beijos ou quaisquer toques que possam ser classificados como sensualizantes. A justificativa é de que esse tipo de namoro permite que o casal não se submeta às tentações do sexo antes do casamento e construa uma amizade realmente sólida para um casamento promissor. A intimidade física é tida, pelos defensores da modalidade, como uma "cola" que impede os envolvidos de se enxergarem como realmente são. Portanto, o contato físico no namoro é visto como um potencializador de casamentos ruins. Existem outros argumentos também, como por exemplo, da necessidade de proteger seu corpo e só entregá-lo para alguém "certo", isto é, seu cônjuge. Nesse afã, alguns casais de namorados fazem votos de dar o primeiro beijo apenas no altar.
Mas... Será o namoro de corte a saída, a solução, a magia para um namoro firme e um casamento feliz?
Digo que não. 
Lembra o que eu disse lá em cima sobre os extremos? Pois então. Segue o raciocínio comigo.
Na defesa do namoro de corte argumenta-se que qualquer toque é capaz de desencadear efeitos biológicos para levar o casal ao sexo. O beijo é definido como "ligou em cima, acendeu em baixo". Portanto, o melhor a se fazer é banir qualquer intimidade física para que o casal não se iluda com as maravilhas do toque e faça uma escolha cega. O nome disso é extremismo. Se no namoro convencional tudo pode, então, trazemos uma modalidade onde nada pode. 
Na teoria faz sentido, é lindo e maravilhoso, mas, na prática não é bem assim que as coisas funcionam.
O que diferencia um casal de namorados de um casal de amigos? A disponibilidade física de ambos. Quando existe atração física, amigos tornam-se amantes. Daí, a expressão de carinho através do beijo, do abraço, das palavras bonitas e do toque é mais que natural. É necessária. É através do contato físico que a relação flui, torna-se aconchegante e traz segurança para ambos.
Quando um casal de apaixonados se priva do contato físico por um longo tempo, eles se tornam demasiadamente amigos. Irmãos. Daí que lá na frente eles vão se permitir o contato, mas a sensação vai ser quase igual a um incesto. O que quero dizer? Que o fator "química" num namoro é tão importante quanto o fator "amizade". Caso contrário, o mundo seria um grande clube de amigos. Não faz sentido ignorar ou matar a atração que um casal sente.
Daí podem vir com aquela máxima "conheço casais que fizeram corte e são felizes". Ótimo. Mas essa felicidade, assim como no combatido namoro convencional, também pode ter um prazo de validade. Um namoro de corte não foi desenhado para durar muito tempo. Sem carinho, o amor morre. Uma flor que não é regada, murcha.
A dicotomia que fazem ao dizerem que a paixão exige contato físico e o amor não, é falsa. A paixão é um caminho natural para o amor. Uma relação não se constrói apenas nas nossas mentes, não é puramente racional. As emoções também precisam entrar em jogo para garantir a sintonia de um casal.
Portanto, o caminho correto é o caminho do bom senso. Não acredite que você é um selvagem que não pode dar sequer um beijo que vai ter calores biológicos que te levarão imediatamente ao sexo. Não é assim que as coisas funcionam. Há sempre a trajetória equilibrada. Você é um ser pensante. Todavia, não acredite que dá pra ficar no limiar entre o proibido e o permitido. Também não dá.
Talvez fosse bom um casal de apaixonados experimentar um curto período de corte antes do namoro propriamente dito. Mas esse período não deve ser longo. Apenas o suficiente para que verifiquem a afinidade entre si e entender a profundidade da relação.
Claramente, essa é uma definição para o casal. Como diz o ditado "cada cabeça, uma sentença". Nada disso pode ser imposto por uma liderança. O namoro de corte não é a solução mágica para evitar futuros problemas conjugais. Se levado à risca, ele pode nem permitir o casamento.
Graça e Paz!

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