O mundo evangélico é repleto de discordâncias. Normal. As pessoas são diferentes e pensam de maneiras diferentes. Cada um tem uma opinião sobre política, economia, religião, família, relacionamentos, estudos, trabalho, etc. Ninguém é igual a ninguém e todas as vezes que se tenta coletivizar o ser humano, os resultados são bem desastrosos. Vide os experimentos socialistas na história. É basicamente impossível um único ser humano ou um conjunto de administradores preverem todas as necessidades de uma população. É mais impossível ainda que um pequeno grupo de burocratas ou líderes consiga meios de organizar ofertas e demandas. As pessoas precisam ser livres em suas escolhas. Quanto mais livre é uma sociedade, mais próspera ela será. As ideias inovadoras, as novas tecnologias ou as pequenas coisas mais simples e cheias de significado que existem nascem nas pessoas. Claro, estou falando aqui de liberdade e não de irresponsabilidade. O império da lei é importante, pois, onde nasce um direito meu, nasce um seu.
Apesar de bastante óbvia, essa é uma noção que ainda não encontra muita raiz no meio cristão. Temos uma diversidade de denominações evangélicas que brigam entre si na disputa do monopólio da verdade. Cada uma com a sua justificativa para esse ou aquele tema. Algumas denominações pregam rígidos conceitos de vestimenta para mulheres e homens, padrões de comportamento mais sérios para os jovens e um elevado número de proibições. Nada de maquiagem, cortes de cabelo, barbas ou calças apertadas. Tem seus membros. Seus congregados. Problema nenhum.
Já outras igrejas não vêem a necessidade de tanta regulamentação. Permitem que seus membros usem de bom senso em suas vidas. Tem seus membros. Problema? Nenhum.
Acontece que existe uma guerra interminável entre esses dois pólos. Um afirma que o outro não é igreja, que o outro não vai para o céu, que não são cristãos, que são corrompidos. Alguns pastores até proíbem visitas. Que exagero, não?
Olhemos as seguintes palavras do apóstolo Paulo:
“ Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.” – Romanos 14.2,3
Interessante, não? Então, o apóstolo Paulo está dizendo que é plenamente possível conviver com as diferenças? Sim. É isso mesmo. Algumas pessoas acreditam que podem adotar certos comportamentos, outros, não. E se a Bíblia nada diz sobre tal comportamento, vale a convenção de cada um com Deus.
“Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.” – Romanos 14.22
“Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.” – Romanos 14.5,6.
Observe que o apóstolo diz que aquele que diferencia um dia do outro ou uma coisa da outra o faz para Deus, não para o homem. Assim, se uma mulher decide não cortar o seu cabelo por acreditar que não é a vontade de Deus para ela, amém. Mas se outra quiser cortar, por entender que o Senhor não a proíbe de tal, que vá em frente. Em momento algum você vai encontrar a Bíblia dizendo “não corteis o vosso cabelo, oh, mulheres da igreja!”. Isso é uma mera convenção, um mero regulamento.
Uma outra questão que provoca rumores na seara do pode-não-pode é tãããããão falada masturbação. Se você der uma passadinha em vídeos no youtube vai encontrar pastores fazendo esforços hercúleos em provar que a Bíblia proíbe a prática. Mas ela não proíbe. Na verdade, não há a menor menção do assunto nas páginas sagradas. Então, os teólogos procuram referências paralelas. Insistem em dizer que é pecado porque você precisa fazer uso da pornografia. E se você não precisa? Dizem que é impossível não precisar. Dizem que é sexo solitário, pecado de egoísmo sentir prazer sozinho. Oras, pelo amor do Pai. Se a Bíblia nada diz, isso parte de você. De você com Deus. É necessário mesmo se intrometer em detalhes tão íntimos da vida alheia?
Houve um tempo em que nossas igrejas proibiam (algumas ainda o fazem) jogar futebol. Sério. Nada de bater uma bolinha com os amigos no fim de semana. Um dia um irmão virou pra mim e disse que em Gálatas 5.19 estava escrito que “todo jogo é lascívia”. Abri a Bíblia na passagem citada e falei: me mostre. Eis o que diz Gálatas 5.19:
“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia.”
O leitor vê a palavra “jogo” nesse versículo? Eu não.
Ora, quer bater uma bola? Então vá. É um perna de pau e não gosta? Não aborreça.
Meus amados, ser cristão vai muito além de proibições. Observe esses versículos:
“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens.” – Colossenses 2.20-22.
Paulo diz aqui que ordenanças e regulamentos de homens perecem com o tempo. E perecem mesmo. Tome como exemplo os “crentes” da década de 80, que mal chegavam perto de uma TV, andavam sempre de social... E hoje? Hoje temos igrejas enormes com programas na de televisão, moda gospel, cantores famosos... Acaso posso eu dizer que os crentes de hoje são menos crentes do que os de antigamente? De modo algum! O que houve com a pilha de regulamentações? Pereceu, assim como disse Paulo.
Mais um exemplo? Sim... Tem uma determinada denominação evangélica pentecostal que é conhecida por ter um regimento interno rigoroso. Lá naquele regimento tem regra para tudo. Em tempos mais remotos, homens eram proibidos de usar camisa vermelha. Hoje podem. Era proibido tocar bateria nos cultos. Hoje não é... Ta vendo que regulamentos mudam? Exatamente isso que Paulo diz!
Concluindo: sejamos mais tranqüilos. Naquilo que a Bíblia diz claramente, unidade. Naquilo que ela se cala, respeito à decisão alheia. Mas, em todas as coisas, amor.
Graça e Paz!
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